quarta-feira, 21 de maio de 2008

mídia simplifica aquecimento global


Em setembro do ano passado escrevi um artigo para o nosso blog em que comentava a questão dos biocombustíveis antecipando, inclusive, a discussão hoje levantada pela ONU sobre a falta de alimentos. A possibilidade do redirecionamento das plantações que, gradualmente, estariam deixando de cultivar alimentos e concentrando suas atividades em produzir insumos voltados para a indústria dos combustíveis renováveis.

Neste momento, outra questão de fundo ambiental tem aparecido nos meios de comunicação (como a catástrofe ocorrida recentemente em Miamar por conta de um ciclone). O chamado “aquecimento global” figura como um dos grandes responsáveis pelas rigorosas intempéries. Mais uma vez, a superficialidade em torno do debate denuncia a falta de rigor (ou o comprometimento?) da apuração de informações sobre o fenômeno.

A mídia normalmente aponta a emissão de dióxido de carbono (CO2) como responsável pelo aumento da temperatura média do planeta. Conheço poucos fenômenos naturais que ocorrem, todavia, por conta de uma única causa. É fácil imaginarmos que, talvez, outros gases devem contribuir para a ocorrência do aquecimento da Terra.

Outros fatores menos apontados devem aparecer ao menos a título de enriquecimento da análise. A quantidade de vapor d’água na atmosfera, por exemplo, também interfere na temperatura do planeta. Ora, a “inocente” água está atrelada a um fenômeno “terrível”? Sim. Se formos buscar mais argumentos em torno do assunto poderíamos chegar a informações que, inclusive, redirecionam toda a questão.

Analisando somente um caso de disparidade de informações, devemos lembrar que parte dos paleontólogos (cientistas que se ocupam em analisar animais e plantas fossilizados) chegam a mencionar que o aquecimento global não é um fenômeno de responsabilidade humana. Argumentam que, em longo prazo, a temperatura média do planeta sofre alterações. Alterações estas que depois são naturalmente contornadas.

Isso não quer dizer, todavia, que sugiro não controlarmos a emissão de gases poluentes. Só estou percebendo que boa parte dos debates possuem mais de um lado. Eventualmente, muitos lados...

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Aproveitando a oportunidade, não devo deixar de mencionar o artigo do jornal norte-americano The New York Times de anteontem (18/05) em que defendem, mais uma vez, a internacionalização da Amazônia. Esse imperialismo yankee é difícil de aturar...bom...sobre um assunto tão sério devemos um comentário imediato. Neste caso, deixo as palavras do então reitor da Universidade de Brasília (quando numa universidade norte-americana foi questionado por um estudante sobre qual seria seu ponto de vista a respeito da internacionalização de nossa floresta numa perspectiva “humanista”).

Na postagem logo abaixo, portanto, a magistral resposta do então prof. Cristóvam Buarque.

ex-reitor da Unb comenta "venda" da amazônia

Conforme prometido no artigo logo acima, ai vai:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como patrimônio cultural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria Ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimento nas fronteiras dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda Humanidade.

Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA têm defendido a idéias de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"


Bem dito, prof. Cristóvam...alguém quer comentar?

terça-feira, 6 de maio de 2008

assassinato monopoliza noticiário


Não farei coro em torno do assassinato da menina Isabella Nardoni. Na verdade, o intuito desse artigo é outro. O caso dela, todavia, deve servir como disparador para uma discussão que não tem sido feita nos grandes meios de comunicação. Como mencionar uma idéia clichê aos meus estudantes no curso de Jornalismo: A mídia não pode agir como polícia, nem como justiça; não pode investigar (criminalmente) nem julgar. Por definição, inclusive legal, não são estas as atribuições da comunicação social.

Para começar, os meios de comunicação costumam tratar casos de violência como se fossem notícias de relevo e interesse social (não confundir com “interesse das pessoas”). Fogem, portanto, de suas obrigações fundamentais. Mais ainda: Geram “fatos” na medida que sugerem, implicitamente, que aquilo que é divulgado é o que, efetivamente, deve ser sabido. Discussões sérias sobre as causas e as formas de combate (em termos amplos) da violência costumam passar ao longe das notícias e reportagens.

Sem querer parecer indiferente ou insensível, também gostaria de saber qual a prerrogativa que justifica uma cobertura tão extensa e tão exaustiva sobre um único caso de violência que, ademais, não é o único nem em seu gênero. “Isabellas” (de diferentes formas, de diversas idades, e em diferentes circunstâncias) morrem a todo momento em uma sociedade com problemas crônicos de diversas naturezas.

Sobre a cobertura do evento em si, sendo inevitável fugir completamente ao assunto, é preciso trazer uma discussão à tona: A postura condenatória de boa parte da imprensa é preocupante. Mesmo que sejam completamente irrefutáveis as provas contra o casal acusado, não cabe aos veículos de comunicação atropelar o jogo democrático que cede o direito de julgamento aos acusados.

Lembremos que, em 1994, proprietários de uma escola infantil foram acusados de abusar das crianças que estavam aos seus cuidados. A imprensa, na mesma velocidade que vocifera sobre o caso da menina, partiu para a condenação dessas pessoas. Infelizmente (e instrutivamente...) não eram culpados. Não eram culpados mas a imprensa já havia atropelado a vida deles. Esta história foi registrada por Alex Ribeiro no livro “Caso Escola Base” (da Editora Ática).

Quem conhece um pouco o poder dos meios de comunicação, consegue imaginar o tamanho do estrago causado por essa irresponsabilidade. Note que aqui não há nenhuma defesa do casal. Mas...quem investiga é a polícia...quem julga é a justiça...imprensa....eventualmente denuncia...normalmente divulga...divulga resultados...


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Em tempo: Este nosso blog (“nosso” por ser meu e seu...) está passando por uma reestruturação. Desde sua criação, já passou por uma série de contratempos...o computador usado para escrever estes pequenos artigos quebrou...algumas vezes...a internet que utilizo, via celular, raramente permite o abastecimento de conteúdo. Para este ano, todavia, algumas mudanças farão com que o abastecimento não tenha novos problemas: Neste ano estou com maior disponibilidade para escrever. O computador será trocado (se antes não for queimado...). A companhia telefônica contratada para prestar o serviço de internet, discutirá a relação com o PROCON. Nova forma de acesso está em estudo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

debate sobre rigidez das leis leva ao engano

Acabei por passar por um período um tanto conturbado por conta dos compromissos de fim de semestre (a ponto de deixar de escrever para esta singela página). Muita coisa que demanda atenção especial, teve que ser suspensa temporariamente. Na ânsia da economia do tempo, algumas vezes me vi obrigado a usar a televisão como fonte de informação. Daí ter notado mais uma questão relevante: a forma com que alguns meios tratam do tema “violência”.

São bastante comuns os programas de TV de cunho sensacionalista que adoram tratar de questões ligadas à violência urbana. Com muita freqüência, também, os apresentadores desses programas fazem questão de emitir suas opiniões com relação à segurança pública. Para nosso azar, normalmente possuem audiência significativa.

O problema desse tipo de programa não está, necessariamente, nos temas que eles abordam. Talvez valha a pena refletir um pouco mais sobre a forma com que eles são tratados. Primeiro, se queremos falar sobre violência, teríamos que deixar claro quais são seus fundamentos. Saber o que é “violência”. De onde ela vem? Por que ela existe? Bom. Já deve ser perceptível que há muito assunto dentro desse assunto.

Para fechar um recorte, uma discussão pode servir como exemplo sobre a abordagem sobre a violência. Em casos de manifestações violentas acentuadamente chocantes (caso de assassinato de crianças...atropelamentos fatais...crimes contra a vida com requintes de crueldade...), é comum ouvirmos opiniões que versem sobre a necessidade do “endurecimento” das leis.

Pois bem. Vamos para a questão legal. É senso comum afirmar que o bandido só é bandido porque a lei é branda. “Faltam leis neste país!”, dizem. Mas não. Leis não faltam. Pelo contrário. Um advogado poderia ser muito mais detalhado na exposição desse panorama, mas deve ser suficiente se mencionarmos que, em termos de quantidade de leis, o Brasil é campeão do mundo. Nosso código civil é tido como o mais “completo” do mundo. O código penal também é para lá de detalhado. Até nossa constituição é das mais longas do mundo...

A questão, por conseguinte, não está na quantidade ou na dureza da lei. Seríamos mais racionais se fossemos analisar a aplicação da lei. Desculpe pelo abuso da idéia, mas falta mesmo é observar o emprego da lei de maneira uniforme. A lei, que é sempre uma, costuma possuir interpretações diferenciadas (é o famoso “depende pra quem”...). A lei, eventualmente, não é aplicada no mesmo rigor e nos mesmos termos em casos equinânimes (mais uma vez, “depende”...). A lei, talvez, não é nem aplicada em alguns casos. Depende do interesse das partes que, quando próximas, ou por relações pessoais, sociais e até econômicas, podem ser coincidentes.

Dito de forma ampla, não é uma questão de lei. Mas pode ser, antes mesmo, questão de justiça. Justiça social.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

privatizações ganham apoio de tv


No último dia 09 ocorreu o leilão que concede o direito de exploração de vários trechos em rodovias federais. No caso do Paraná, foram leiloados o trecho entre Paraná e Santa Catarina (BR-116); o trecho entre Paraná e São Paulo (BR-116) e o trecho entre Curitiba e Garuva (BR-376). As chamadas privatizações já não são novidade por aqui e nem é meu objetivo, por hora, entrar no mérito dessas questões. Minha preocupação está em observar a postura da imprensa diante desse novo episódio das concessões rodoviárias.

Pelo que pude acompanhar, as privatizações foram tratadas pela mídia como processos naturais e inevitáveis. Em poucos veículos acompanhamos visões mais plurais a respeito do assunto. Ora, onde vimos explicações sobre os mecanismos das privatizações. De onde é o dinheiro das “compras”? Estas “compras”, para começar, são pagas (em “dinheiro”...) para o governo? Quais as alternativas para os processos de concessão da exploração de serviços públicos?

Todavia, conforme coloquei, nem vou falar na justeza do caso. Vale a pena ir um pouco mais longe e perceber algo que, outrossim, é pelo menos estranho: Nos noticiários de uma tv de grande audiência, a “notícia” das privatizações foi sempre acompanhada de uma outra “notícia” subseqüente em que apontavam a precariedade das rodovias em solo paranaense. Para variar, perguntar (algumas vezes) não ofende: será que, com essa “amarração” não quiseram levar ao “respeitável público” um entendimento prévio sobre a qualidade do que é público em relação ao que é privado?

Alguém aqui chegaria à absurda conclusão que alguns veículos “compraram” um lado da versão? E a famosa imparcialidade?

domingo, 14 de outubro de 2007

debate superficial atrapalha emprego

Talvez um dos temas que mais rendem argumentos, inclusive em termos políticos, é o desemprego. E quase sempre, a questão está associada a tal “crise econômica”. Bom. Para começar, faço uma pergunta: Quando surgiu essa crise no Brasil? Ou, dito de outra forma, alguém ai nasceu numa época que não era de crise? Será, então, que não seria razoável entendermos que o Brasil não PASSA por um crise, mas que o país É a própria crise? Que esta nação foi feita assim?

Num argumento simples e genial de Darcy Ribeiro, que está em seu artigo chamado “Sobre o Óbvio”, lemos que a crise brasileira não é um estado momentâneo, mas que se trata de um programa. O Brasil foi pensado, desde sua origem colonial, para ser a terra da oportunidade para uma seleta minoria. É para ser dessa forma. Tem gente – poderosa – que se beneficia desse “quadro recessivo” desde sempre. Inclusive hoje.

Pois bem. A crise que não é crise vive carrega de conversas sobre a questão do emprego. Este cenário, entretanto, é multifacetado e, por isso mesmo, não pode ser generalizado. Há diversos “tipos” de desemprego. Há o desemprego causado por crises MOMENTÂNEAS na economia. Este, não deve ser a regra do caso brasileiro. Há o desemprego causado pela falta de qualificação da mão-de-obra em diversos setores. Talvez o caso de alguns setores no Brasil.

Há o desemprego causado pelo desaparecimento da vaga. Este último chamado pela sociologia de “desemprego estrutural”. Os tempos mudam e, com os avanços técnico-científicos, alguns trabalhos deixam de ser executados pelo homem para serem executados por máquinas. Este caso, também aparece no Brasil. E há o desemprego que chega a ser “pecado” mencionar: Aquele em que o emprego existe, as pessoas são habilitadas para executar mas que, no entanto, elas não se dispõe a executar.

Se discutíssemos o emprego no Brasil teríamos que nos ater em diversas variáveis que, de forma resumida, vão passar pelos seguintes problemas: Qualificação (de verdade!) do trabalhador, constante adaptação do trabalhador às novas condições do emprego no mercado (chamado, enganosamente, de capacitação profissional continuada), redirecionamento de políticas de emprego e, curiosamente, esforço no sentido de fazer as pessoas entenderem o sentido do trabalho.

Este artigo, na verdade, nasce de causa própria. Coordeno uma equipe de professores que estão empenhados em levar a educação para as pessoas que precisam exatamente onde elas precisam e da forma que precisam: no lugar onde estão e com um custo razoável. Não precisarei entrar em detalhes sobre a iniciativa. Não é objeto desse artigo fazer propaganda da idéia. Mas de toda maneira, nosso negócio é meu grande laboratório para a prática do que é discutido na sala de aula. Um paradoxo pra lá de interessante.

Basicamente, a idéia é a seguinte: Tento desenvolver um modelo de gestão empresarial baseado no que há de mais atual em termos de administração. Cada área é coordenada por um professor designado por sua “competência” (interesse e experiência anterior em seu ramo de atividade). Todo professor, participa das reuniões para discutir o andamento de todos os projetos. Alguns podem se tornar sócios dos projetos ao longo do tempo (não confundir com “cooperativa”). Empresas são convidadas para serem parceiras das iniciativas (para reduzir custos para os estudantes). Aquilo que podemos fazer, fazemos. A parte de estratégia de divulgação, por exemplo, é feita por mim. Jornalista. A divulgação em si é encaminhada pelos professores interessados em “subir de nível” dentro da organização (interesse e experiência...). Redução de custos de funcionamento, como você pode perceber, por todos os lados...

Fato é que o “negócio” funciona. E funciona melhor que eu mesmo poderia supor no início. E, mais uma vez para minha surpresa, poderia ampliar ainda mais suas atividades. A questão é que esbarramos, indiretamente, na questão do emprego. Não podemos crescer como gostaríamos. E não é por falta de recursos. Não podemos crescer por uma questão pelo menos curiosa: Falta gente. Faltam profissionais com o perfil exigido em todas as áreas e, ainda mais, para ocupar funções em que decisões devem ser tomadas.

Entretanto, ao repensar o assunto, percebi que estávamos pensando que a dificuldade poderia estar na capacidade das pessoas de decidir. Por estes dias, um dos professores chegou a mencionar que o problema central era a falta de qualificação dos “trabalhadores”. Mas não. O problema, pelo menos neste caso, não é este. Qualificadas, muitas pessoas são. A questão está, talvez, na forma com que as pessoas aprenderam a entender o “trabalho”. Aquele que busca uma vaga no mercado, busca por “emprego”. O problema está ai: O trabalho, assim como o emprego, não são os mesmos (se comparados com décadas passadas).

Os candidatos às vagas normalmente conseguem tomar decisões. Até porque o ser humano é dotado de razão; razão esta que todo mundo usa. Dito de outra maneira, quem aqui não gosta de poder decidir como fazer as coisas? O medo não está em decidir, mas em se empenhar. Empenhar para que as coisas não fujam ao controle. Empenhar para que os resultados de seu desempenho sejam potencializados. Assumir o compromisso de “vestir a camisa” parece que dói. Ocupa tempo e precisa de comprometimento. Um comprometimento maior do que aquele que é visto nas relações tradicionais de trabalho. Ainda mais se mencionarmos o dado que, caso uma iniciativa não dê certo, a responsabilidade pelo erro também é partilhada.


A racionalidade humana tenta objetivar nossos atos. Se não temos uma visão clara de que, cada vez mais, cada um depende de si para ser necessário no mercado de trabalho do futuro, só nos resta reclamar. O problema está em querer colher os melhores resultados possíveis com o menor esforço e no menor espaço de tempo possível. E não dá. Não é assim. Quanto mais elaboradas são nossas iniciativas, mais elas requerem daqueles que trabalham com elas. A razão que esclarece, pelo visto, em alguns momentos é a mesma que nos confunde.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

imprensa esquece acidente da TAM

Os meios de comunicação, de maneira geral, abandonaram o acidente do vôo 3054 da TAM. O fato ocorreu no último dia 17 de julho, quando o AirBus A 320 da companhia aérea não conseguiu parar na pista do aeroporto de Congonhas. A aeronave atravessou a Avenida Washington Luís após ter percorrido toda a pista do aeroporto e colidiu com o prédio do setor de logística da própria empresa. Em linhas gerais, a justificativa é de que, para o momento, não há novidades relevantes em torno do assunto. Curiosamente, alguns argumentos básicos não foram apontados em sua devida profundidade. Em momento algum, inclusive.

Em primeiro lugar, o caos aéreo já estava instalado; devidamente “inaugurado” com o a queda do Boing da Gol (vôo 1907) no meio da floresta amazônica, nas proximidades da cidade de Peixoto de Azevedo, no MT. Isso, em setembro de 2006. Nos muitos meses que se seguiram, um festival de atrasos e cancelamentos de vôos em diversos aeroportos do país. Pequenos acidentes não foram nada raros no mesmo período. Não há como dizer, portanto, que as tais autoridades competentes não sabiam da fragilidade do sistema de tráfego aéreo brasileiro. Este argumento, até certo ponto foi analisado mas, depois, desvalorizado.

Segundo, o poder de lobby das companhias aéreas. Em nome da lucratividade dos negócios das poderosas empresas aéreas, o governo permite que vontades das empresas aéreas sejam mais que respeitadas. A utilização quase que exclusiva do aeroporto de Congonhas como centro de distribuição de vôos, é um dos exemplos dessa situação. Este aproveitamento excessivo da capacidade de fluxo num único aeroporto, pode ter gerado condições para o mal acompanhamento dos procedimentos de pousos e decolagens. Daí, talvez algumas normas de segurança não estarem, talvez, sendo observadas pelas companhias...

Terceiro e último Para variar, envolve o óbvio. Condições objetivas no contexto do acidente. Aeroporto congestionado. Aviso logo anterior por parte de outro piloto de aeronave que pousava em Congonhas de que a pista estava escorregadia. Agora o argumento óbvio em torno da negligência da companhia: Avião lotado em tais condições de pouso. Um avião que, ademais, estava com um de seus mecanismos de frenagem, desativado...Pergunta: Tem como dar certo?